Após mais de 2 (duas) décadas de experiência na advocacia, tendo vivenciado significativas mudanças até mesmo na lógica da prestação dos serviços jurídicos, aproveito o dia 11/08/2023, data em que é comemorado o DIA DO ADVOGADO para fazer algumas reflexões sobre o momento vivido pela ADVOCACIA, naturalmente apontando os seus grandes desafios.
Apenas para que todos possam se situar no tempo e na forma como a advocacia era exercida, recebi o diploma de bacharel em direito em 21/01/1999, tendo obtido a inscrição na Ordem dos Advogados do Brasil, Seccional do Rio Grande do Norte, após aprovação no Exame de Ordem, no dia 22/06/1999.
Naquela época, não se falava em processo eletrônico, uso de redes sociais, atendimentos, julgamentos e audiências por videoconferência, transmissão de julgamentos pela TV, nem muito menos na comunicação via whatsApp.
Lembro bem dos deslocamentos ao Fórum, localizado no bairro da Ribeira, em busca dos processos físicos, que eram localizados a partir de fichas; do ajuizamento de uma ação, em que era possível perguntar junto ao Cartório Distribuidor qual era a Vara Cível da vez e, em alguns momentos, optar por aguardar a próxima oportunidade; das leituras dos Diários Oficiais do Estado, com a finalidade de buscar as intimações dos atos processuais e ter acesso às jurisprudências atualizadas; das pastas suspensas para arquivamento dos documentos; e até mesmo as bibliotecas dos escritórios.
Sempre que volto ao tempo, conceituo a referida época como da ADVOCACIA ANALÓGICA, em que existia um verdadeiro romantismo na advocacia, na qual a atuação ética, a forma de se expressar em uma tribuna e até mesmo o relacionamento com as pessoas guardava sinais mais personalizados e até de ritmo lento.
Passados alguns anos, veio a fase de implementação do processo eletrônico, tendo-se como referência o ano de 2006, oportunidade em que foi iniciada a digitalização dos processos, passando a ser necessário o uso de software de gestão processual, empresas passaram a fazer a leitura do Diário Oficial, as bibliotecas começaram a diminuir, os arquivos passaram a ser digitais e os Tribunais disponibilizaram as informações em seus sites.
Na ocasião, escritório com PROCESSOS DIGITALIZADOS era sinônimo de SUCESSO.
Atualmente, nos deparamos com a advocacia na Era Digital, onde a lógica de trabalhar e prestar serviços mudou radicalmente.
Home office, as audiências, as sessões de julgamento, os contatos com magistrados e secretarias passaram a ser realizados por videoconferência; as redes sociais começaram a ocupar no cenário processual a posição de maior fornecedora de provas (visão cliente) e meio de aproximação (visão profissional); o WhatsApp assumiu a condição de principal meio de comunicação, passando também a ter destaque as plataformas do Zoom, Skype, Google Meet, Teams, Webex Meet e Hangouts.
Além disso, tornou-se indispensável em um escritório o uso de softwares de gestão processual, financeira, jurisprudência e busca automática de movimentação processual; os processos passaram a ser 100% digitais, as bibliotecas foram desativadas, as pessoas passaram a melhor aceitar as soluções jurídicas extrajudiciais, observando-se que POUCOS PROCESSOS e BONS RESULTADOS FINANCEIROS poderão ser sinônimo de ADVOGADO DE SUCESSO.
Eis o momento em começaram a ser implementados os conceitos de Gestão e o Empreendedorismo na Advocacia, com inclusão de planejamento, organização, controle, medição de resultados, relacionamento com cliente, riscos, criação de novos serviços, identificação de oportunidades, mudança na forma de prestação do serviço, venda e lucro.
Talvez, inclusive, os elementos SERVIÇOS, CLIENTES e LUCRO tenham melhor se aproximado.
Diante de tal cenário, quais os grandes desafios da ADVOCACIA?
· Saber que o advogado não viverá apenas de litígios;
· Somente acionar a justiça quando a habilidade dos advogados não possibilitar a solução;
· Entender mais as PESSOAS do que as LEIS poderá ser um indicativo de sucesso;
· Direcionar o olhar para a prestação de serviços preventivos;
· O advogado emitirá mais opiniões nos negócios e na vida das pessoas;
· Saber que, embora a tecnologia seja algo essencial, as pessoas estão precisando de mais atenção.
Portanto, um novo olhar deverá ser direcionado, com busca de conhecimento nas áreas de Gestão, Finanças, Economia, Contabilidade, Psicologia, Marketing, Comunicação e Oratória, Vendas e Tecnologia.
Afinal, “O uso da tecnologia tornará o trabalho das pessoas qualificadas mais valioso e importante, o que vai exigir mais preparo e qualificação do advogado.” (A advocacia na era digital, p. 115)
Parabéns a todos os ADVOGADOS…
Carlos Kelsen Silva dos Santos
Advogado, Sócio Gestor do Lucio Teixeira dos Santos Advogados, Especialista em Direito Privado: Civil e Empresarial, Mestre em Administração, Autor do livro “Planejamento Estratégico em Escritórios de Advocacia: a importância de planejar a prestação de serviços”, titular da coluna “Visão Jurídica”, que acontece todas as terças-feiras, durante o programa Cidade Notícias, na Rádio Cidade 94FM; e integrante do projeto de educação jurídica @SEU RUMO.
*figura: https://oa.adv.br/direito-digital-no-brasil/