O que faz uma startup ser atraente para aquisição

O ecossistema brasileiro de startups realizou até julho deste ano 134 M&As (fusões e aquisições), número que representa 82% do total de negócios fechados ao longo de 2020. No ano passado, foram 163 operações concluídas – e é questão de (pouco) tempo até a marca ser ultrapassada. Só nos primeiros dias de agosto, a Petz comprou a Zee.Dog por R$ 715 milhões e a Locaweb partiu para a sua 10ª aquisição em menos de dois anos.

Atitudes mais grandiosas, como a do Magalu, que incorporou 22 startups em um ano e meio, também reforçam a tese de que este é um momento para os fundadores dormirem com um olho aberto. Para Gustavo Gierun, managing partner do Distrito, o Brasil vive uma realidade única, resultado da transformação digital das grandes empresas durante a pandemia e do interesse dos unicórnios e das scale-ups em fechar negócios com startups. “O M&A se tornou uma estratégia de impulsionar o processo de digitalização das empresas, seja para oferecer novos produtos à base atual de clientes, seja para consolidar novos mercados ou até adquirir times inteiros”, afirma.

A competição deve se acirrar nos próximos anos, em razão da liquidez do mercado de venture capital. “Com caixa disponível, as empresas de tecnologia irão certamente intensificar as aquisições”, diz Gierun. Mas como aproveitar essas oportunidades? PEGN conversou com especialistas e executivos dos unicórnios Loft e Creditas para entender de que forma os fundadores de startups podem se sair melhor nesse tipo de deal.

Diligências

Assim como um investimento de fundos de venture capital, o M&A conta com um rígido processo de diligência – às vezes, até mais exigente do que o realizado para um aporte de recursos. O procedimento é um método de auditoria pelo qual as duas empresas passam antes da conclusão do negócio. “Ter a casa arrumada é um dos principais fatores para uma transação ser realizada de forma rápida e produtiva”, diz Guilherme Stuart, fundador da RGS Partners, boutique de M&As responsável por assessorar transações como a venda da AMO para o Grupo DASA e a rodada Série B levantada pela Remessa Online.

A “casa arrumada” a que Stuart se refere envolve questões financeiras, trabalhistas e de contratação de tecnologia. “Os números precisam ser auditáveis”, diz Stuart. Alguns desafios enfrentados por startups nessa etapa são ter profissionais contratados como pessoas jurídicas e não possuir o registro dos softwares usados na empresa.

Para Guilherme Carlos, sócio da consultoria de M&As GCI Advisory, algumas decisões tomadas ao longo da história do negócio podem tornar o processo mais moroso. “Se a startup faz muita contratação PJ, deve estar ciente de que o modelo afasta possíveis compradores”, diz. O mesmo vale para a tecnologia. “Se o seu negócio está baseado em uma linguagem ultrapassada, se não está na nuvem, isso também atrapalha”, afirma Carlos.

Gierun resume a percepção dos executivos com uma palavra: governança. “É fundamental ter controles financeiros bem estruturados, documentos societários e comerciais atualizados e políticas de dados e segurança de informação evoluídas”, afirma o executivo do Distrito.

Time, produto e propósito

Além da burocracia, há um ponto fundamental: a startup tem que ser boa. Filipe Jorge, vice-presidente de corporate development & investor relations da Creditas, destaca que entram no radar do unicórnio de crédito empresas capazes de complementar a oferta de serviços da companhia. Com uma equipe de cinco pessoas focada em M&As e relacionamento com investidores, Jorge diz que time, produto e tecnologia são elementos básicos na hora da avaliação de uma startup. “O M&A é um cálculo de risco e retorno”, afirma. Recentemente, a Creditas comprou as startups BCredi, Voltz, Minuto Seguros e Volanty.

Kristian Huber, vice-presidente de negócios da Loft, unicórnio do mercado imobiliário, ressalta que é importante dar autonomia aos empreendedores que entram no negócio. Sob o comando de Huber trabalham dez pessoas que mapeiam oportunidades no ecossistema. Na sua visão, as startups dispostas a serem compradas ou fundidas devem estar prontas para crescer em conjunto com quem fez a aquisição. “Nós entendemos que a empresa só atingiu o seu estágio porque conta com um time talentoso de fundadores. A ideia é combinar expectativas e dar autonomia para essas equipes seguirem o trabalho”, afirma.

Contudo, a Loft também usa M&As para acelerar a contratação de talentos, ou o “aqui-hire”, jargão usado no mercado de startups. “Há casos em que investimos com a função de trazer um time qualificado para dentro da Loft”, diz Huber.

As duas companhias – e o mercado – concordam em um ponto: os M&As não vão parar por aí. “Seguimos interessados em soluções inovadoras que gerem valor para o nosso cliente”, afirma o executivo da Loft. Para Jorge, a conta é similar: “Estamos de olho no mercado e vamos continuar operando dessa forma”.

Fonte: Revista Pequenas Empresas e Grandes Negócios/ Globo

CONHEÇA NOSSA

ESTRUTURA